domingo, 9 de novembro de 2008

Distimia

Volta e meia me deparo com a tarefa inglória de tentar explicar aos amigos como os pensamentos sombrios podem ocupar a mente de uma pessoa, sem que consigamos lutar contra isso. Dificilmente sinto que fui compreendida. Por isso, foi consolador (embora também doloroso) encontrar este poema de Gonçalo M. Tavares, do qual reproduzo alguns versos:

"(...)
Às vezes tenho medo, muito medo.
Às vezes sofro.
Às vezes, penso nas pessoas que amo e penso na possibilidade
de as perder.
Às vezes vejo alguém doente e fico incomodado.
Pode não ser um amigo ou um familiar.
Posso estar a vê-lo pela primeira vez.
Mas fico incomodado.
Aquela doença pertence-me.
(...)
Às vezes sinto isso muito,
outras vezes sinto menos.
Quando sinto menos posso preocupar-me como mundo,
brincar com a poesia,
com a filosofia e com as palavras.
Mas quando sinto, deixo de conseguir pensar.
(...)
Que importa o resto?
Onde está o livro importante?
O filme que resolve?
(...)
Estamos sozinho.
Se não estamos, vamos estar.
Os amigos vão-nos deixando, vão-nos deixar.
Vão morrer ou nós vamos morrer.
(...)
Estamos sozinhos. As pessoas que amo vão morrer.
(...)"

Não tem título, exceto pelo número "50.". Está no livro "O Homem ou é Tonto ou é Mulher". Que aliás foi dica do jornalista, compositor, cantor e gente finíssima Beto Só.
http://blogdobetoso.blogspot.com/

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